Aquilo que percebemos como uma estrutura compacta chamada
corpo, que é sujeito às doenças, ao envelhecimento e à morte, não é real, não é
você. É uma percepção errada da nossa realidade essencial, que está além do
nascimento e da morte, cuja causa está nas limitações da nossa mente. A mente,
tendo perdido o contato com o Ser, cria o corpo como uma prova da sua crença
ilusória de separação para justificar o seu estado de medo. Mas não despreze o
corpo, porque é no interior desse símbolo de não permanência, limitação e morte
que está contido o esplendor da nossa realidade essencial e imortal. Não desvie
a atenção para outro lugar em sua busca da Verdade, pois ela não pode ser
encontrada em nenhum outro lugar que não no interior do seu corpo.
Não lute contra o seu corpo, porque, ao fazer isso, você
está lutando contra a sua própria realidade. Você é o seu corpo. O corpo que
você vê e toca é somente um delicado véu de ilusão. Debaixo dele encontra-se o
seu corpo interior invisível, a porta de entrada para o Ser, para a Vida Não
Manifesta. Através do corpo interior, estamos inseparavelmente conectados a
essa Vida Não Manifesta – onde não há nascimentos nem mortes –, que é
eternamente presente. Através do corpo interior, estamos sempre com Deus.
Finque raízes profundas no seu eu interior
A chave é estar em um estado de conexão permanente com o
nosso corpo interior, em senti-lo em todos os momentos. Essa prática vai se
intensificar rapidamente e transformar sua vida. Quanto mais consciência
direcionamos para o nosso corpo interior, mais cresce a frequência vibracional,
tal qual a luz que vai ficando mais forte quando giramos o botão do dimmer,
aumentando o fluxo de eletricidade. Nesse nível de energia mais elevado, a
negatividade deixa de nos afetar e tendemos a atrair novas circunstâncias que
refletem essa alta frequência.
Quanto mais concentramos a atenção no corpo, mais nos
fixamos no Agora. Não nos perdemos no mundo exterior, nem na mente.
Pensamentos, emoções, medos e desejos podem até estar presentes, mas não vão
mais nos dominar.
Verifique onde está a sua atenção neste momento. Ou você
está me ouvindo ou está lendo minhas palavras em um livro. Aqui está o foco da
sua atenção. Você também está percebendo o que está ao redor, as outras
pessoas, etc. Além disso, pode haver alguma atividade mental em volta do que
você está ouvindo ou lendo, algum comentário mental, embora não haja
necessidade de nada disso absorver toda a sua atenção. Verifique se você
consegue estar em contato com o seu corpo interior ao mesmo tempo. Mantenha
parte da sua atenção no interior. Não permita que ela se disperse. Sinta todo o
seu corpo, lá do fundo, como um só campo de energia. É quase como se você
estivesse ouvindo ou lendo com todo o seu corpo. Pratique nos próximos dias e
semanas.
Não desvie toda a sua atenção da mente nem do mundo
exterior. Procure, por todos os meios, se concentrar naquilo que você está
fazendo, mas sinta o corpo interior ao mesmo tempo, sempre que possível. Tenha
as raízes fincadas dentro de você. Observe, então, como isso altera o seu
estado de consciência e a qualidade do que você está fazendo.
Sempre que você tiver de esperar, esteja onde estiver, use
esse tempo para sentir o seu corpo interior. Assim, os engarrafamentos de
trânsito e as filas vão se tornar mais agradáveis. Em vez de se projetar
mentalmente para longe do Agora, aprofunde-se no Agora ao se aprofundar no seu
corpo.
A habilidade de perceber o corpo interior vai gerar um modo
de vida novo, um estado de conexão permanente com o Ser, e trazer uma
profundidade à sua vida que você jamais imaginou.
É fácil ficar presente como o observador da mente quando as
raízes estão firmemente fincadas no corpo interior. Nada que aconteça do lado
de fora pode nos abalar.
A menos que você esteja presente – e habitar o corpo é
sempre um aspecto fundamental dessa prática –, a mente vai continuar governando
você. O script armazenado na mente, aprendido há tanto tempo, vai ditar o modo
de pensar e agir. Podemos nos livrar dele por períodos curtos, mas dificilmente
por um período longo. Isso se comprova facilmente quando alguma coisa “vai mal”
ou quando existe alguma perda ou aborrecimento. Nossa reação condicionada vai
ser então involuntária, automática e previsível, alimentada por uma emoção
básica que está por baixo do estado identificado com a mente, que é o medo.
Portanto, quando surgirem os desafios, como sempre surgem,
adote o hábito de penetrar direto em seu eu interior e se concentrar o máximo
que puder no campo da energia interna do seu corpo. Não leva muito tempo, só
uns segundos. Mas isso tem de ser feito no exato momento em que o desafio
acontece. Qualquer demora vai permitir que a reação condicionada mental e
emocional apareça e domine você. Quando dirigimos o foco para o campo interno e
sentimos o corpo interior, imediatamente ficamos serenos e presentes, porque
estamos tirando a consciência do campo da mente. Se precisarmos de uma resposta
durante essa situação, ela virá desse campo interior. Assim como o sol é
infinitamente mais brilhante do que a chama de uma vela, há uma inteligência
infinitamente maior no Ser do que em nossa mente.
Enquanto mantivermos um contato consciente com o nosso corpo
interior, somos como as árvores que estão enraizadas bem fundo na terra, ou
como um edifício com fundações sólidas e profundas. Essa última analogia foi
utilizada por Jesus na geralmente incompreendida parábola dos dois homens que
construíram suas casas. Um deles construiu a sua na areia, sem fundações, e
quando as tempestades e enchentes vieram, arrastaram a casa com elas. O outro
homem cavou fundo até que alcançou a rocha, e só então construiu sua casa, que
não foi arrastada pelas enchentes.
Eckhart Tolle - O Poder do Agora
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